quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Desejinhos



Meu avô sempre disse que "doce de leite sem queijo é igual a abraço sem beijo".

Mas, vô, na falta absoluta do beijo, um abraço é bem melhor que nada né?
Pois é.

Guardei o abraço pra uma ocasião especial. Guardei com tanto afinco, que ele venceu. E estragou.

Mãe, põe outro abraço no correio prá mim, vai!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A festa da menina morta


Muita gente não gostou. É fácil não gostar. O filme é assim, difícil mesmo.

Eu sou suspeita, pois amava desde o primeiro dia de filmagem.
Esse era um filme que, pra me deixar feliz, nem precisava ser bom. Mas é.

Um filme onde todo dia no set alguém chorava. Chorava de emoção ao ver o vento bater sozinho, e a poeira subir enquanto um Paulo José vestido de padre declamava um lindo poema. Chorava de nervoso de assistir os surtos do Santinho. Chorava para sufocar a vontade de gritar ao ver a conversa desconexa quase perfeita entre Pai e Santo. Chorava simplesmente por presenciar, respirar tanta sensibilidade artística.

Um filme onde a gente trabalhou igual sempre, 15, 16 horas por dia, seis dias por semana, com mosquito da malária, muito calor, e sem telefone. Sem pão nem queijo, mas com muita fruta e peixe. Sem ar condicionado no quarto, afinal, o rio secou, e o diesel do gerador (e todas aquelas outras coisas que consideramos necessidades básicas) não chegava mais.
Ou seja, a gente ralou. Muito.

Mas acordava e dormia, quando dormia, com sensação de ter feito arte.
Arte mesmo, aquela, a sétima.

Orgulho gostoso.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Leblon Tales


A Dona Judite deve ter uns 65 anos. O seu cabelo é curto e bem escovado, seus olhos cobertos por óculos escuros de aro marrom claro. Já a Dona Leonor, provavelmente da mesma idade, possui cabelos longos, talvez na altura do ombro, mas vivem presos no alto por uma "piranha". As duas pintam as madeixas de castanho, nem claro, nem escuro, talvez no mesmo salão, na esquina da Ataulfo com a Cupertino.

Dona Judite perdeu o marido há muito tempo. Foi com ele que ela se mudou para o Leblon, onde criou seu único filho. Mora até hoje no mesmo apartamento, numa travessinha arborizada da Rua General Urquiza, onde recebe os netinhos aos domingos para o lanche da tarde. Ela manteve o quarto do filho intacto, e este vez ou outra é ocupado pelas crianças em noites de sábado, quando sua nora tem dificuldades para encontrar uma folgista para a babá. Estes são os melhores finais de semana, pois no domingo de manhã logo cedo vão, avó e netos, para a praia. Ela senta-se perto do salva-vidas e, simpática, pede a ele que observe a menina loirinha de biquini verde e seu irmão no mar. Dona Judite não sabe nadar.

Dona Leonor criou seus filhos fora do Leblon, e só voltou a morar no bairro quando sua mãe faleceu. Cansada de pagar o aluguel altíssimo em Botafogo, empacotou a casa, o marido e a filha solteira, e foram todos para o barulhento apartamento da Ataulfo, em cima do salão de beleza. Ninguém se importou nada com a mudança, e todo final de semana ela recebia feliz a visita de seu fiho, que estacionava o Uno verde na garagem do prédio, e de lá caminhava até o posto 11 com a família. As visitas do filho só diminuíram dois anos atrás, quando, já viúva e aposentada, a professora decidiu alugar sua vaga de garagem para um vizinho. A filha de Dona Leonor mudou-se em 2002 para São Paulo, e aparece a cada dois meses, carregando sempre uma amiga e um sotaque forte que a mãe acha difícil compreender.
Foi nessa minha última viagem ao Rio que conheci as duas senhoras.
Para Dona Judite, que vestia uma calça verde clara bem leve, cinto marrom, e uma camisa de manga longa em seda estampada, pedi uma informação. Eu só queria o endereço da padaria mais próxima, enquanto Dona Judite queria conversar. Me contou que, a cinco blocos dali, passando a sapataria, tinha um mercado muito bom. Aquele, que não era o Pão de Açúcar, não se lembrava o nome, mas era sim, um mercado muito bom. "Como se chama mesmo? Passando a sapataria, alí, a esquerda. No fundo do mercado eles têm um setor de padaria. Tipo uma panificadora mesmo, ah, os pães são muito gostosos. Compre o de milho, minha filha. O pão de milho." Dona Judite foi tão solícita que acabou perdendo o sinal, que abriu e fechou. Acabei me sentindo mal e lhe fiz companhia por mais alguns minutos.
Dois dias depois, quase nesta mesma esquina, me sentei no banco de madeira para descansar. Segundos depois chegou a Dona Eleonor, também de cinto marrom, porém de bermuda, regata e sandália havaiana.  Sentou-se ao meu lado. Acendeu um cigarro e começou a conversar. Contou, assim sem que eu perguntasse, do sufoco na fila do Bradesco, dessa chatice de arrastão na praia no final de semana, do preço dos remédios na farmácia. Reclamou do calor e do inchaço nos pés. Falou da briga da Record com a Globo, da roubalheira que anda este mundo. Acabou seu cigarro, pediu licença, e disse que precisava ir embora, pois não queria perder a novela das seis. Não sei ao certo se na Globo ou na Record.
Logo depois me levantei, e fui comprar o meu remédio caro na farmácia. Até hoje não encontrei nem a sapataria, muito menos o pão de milho no supermercado incrível da Dona Judite. No caminho de casa, enquanto suava de calor, cruzei com mais umas 5 ou 6 senhoras, cada uma de um estilo. E me lembrei da minha infância, das férias na casa da minha avó na rua Rita Ludolf. E me lembrei dos tempos em que morei por aqui, já adulta. E senti uma saudade gostosa dessa cidade tão misturada.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Oficial MFA Candidate




Eba! Passei no meu Mid Point Review. Sou, oficialmente, uma MFA candidate, com meu projeto de tese já aprovado.
"The Antagonist", que já tem um roteiro lindo, vai virar um filme!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Mixed Media + Mixed Artists


Lá vou eu, bem mineirinha mesmo, "caçando sarna pra me coçar".
Como ia mesmo passar um mês no Brasil resolvi, para não perder o "semestre do verão", fazer online um curso mandatório de artes plásticas do mestrado.
Como meu trabalho final, poderia bem feliz ter feito filminhos de um minuto. Mas inventei, de novo, e resolvi pintar. Esqueci por uns instantes a minha completa falta de talento para trabalhos manuais, e apresentei a proposta de um projeto ousado que só. A professora adorou. E a mocinha aqui, teve que executar as 15 "telas", logicamente no último minuto.
Acabamos trabalhando todos: eu, mãe, irmão, Ide e quem mais passasse pela porta - todos eles incrivelmente mais talentosos do que a suposta "artista".
Vai aí um gostinho do meu varalzinho "pós-colonialista", estendido na sala da casa da mamãe.